Não sou fã. Conheço basicamente os hits. E não comprei Pista Premium.
Dito isso, hoje ao acordar tive um insight um tanto quanto preocupante. Muita gente, ao contrário de mim e alguns amigos, vão a pouquíssimos shows na vida. Uma vez a cada ano, uma a cada seis meses, uma a cada três anos. Alguém com este perfil e que viveu as mesmas coisas que eu ontem provavelmente vai ficar um bom tempo sem ir. A experiência não foi das melhores. Se eu não soubesse que o evento de ontem foi um caso à parte, teria criado um preconceito enorme a shows em São Paulo.
O Anhembi é um dos piores lugares para eventos na cidade. Pelos problemas de acesso, pelo trânsito que sempre reina na região, pelas dificuldades de entrar no estacionamento, pela péssima qualidade do som, pela péssima visibilidade para quem não comprou premium, pelo horário dos shows nada coerentes com a vida cotidiana em São Paulo – o de ontem, uma quinta-feira, estava marcado para as 20h45.
Ontem, peguei dos maiores trânsitos da vida para ir a um show – só perde para o Rock in Rio 2001, SWU em Itu e a saída do Radiohead na Chácara do Jóquei. A 23 era um estacionamento desde o Ibirapuera até a frente do Campo de Marte. Amigo meu que estava alguns quilômetros atrás de mim deu meia volta e desistiu do show ao perceber que não chegaria a tempo.
Havia um congestionamento enorme de motoristas que acreditavam estar na fila do estacionamento, quando na verdade aquilo não levava a nada a não ser uma entrada fechada do Centro de Exposições. Ninguém os avisava do erro e lá ficavam eles aguardando um movimento naquela fila longa de automóveis.
O retorno que eu deveria pegar para acessar o estacionamento estava bloqueado. O fluxo me jogou de volta à Marginal Pinheiros, sem estacionamento e sem opções, a não ser jogar o carro em cima do canteiro central, como todo mundo estava fazendo e pagar 30 reais para o flanelinha.
A caminhada até o show foi longuíssima, como sempre é. Coitada da Cá Marinho que havia errado na vestimenta e estava de salto alto.
O local onde fiquei na pista normal foi daqueles em que o cantor fica pequeno até no telão. A olho nu, eu não sabia identificar se aquilo que se movimentava no palco era um ser humano ou uma vaca. Pelo som que esse ser fazia no microfone, percebi que se tratava de um ser humano.
As pessoas ao meu redor, algumas vestindo camisetas do Hard Rock Cafe Cancun, devem ter se confundido e achado que aquele que se apresentava era o Phillip Phillips, cantor de abertura. Porque elas não davam a mínima, conversavam, de costas para o palco, como se não tivessem pago ingresso para ver John Mayer.
Atrás de mim, uma garota se esgoelava, gastando todos os palavrões que ela aprendeu na vida, xingando uma moça que a poucos metros de nós estava nos ombros do namorado. “Isso é um absurdo! Desce! Desce!”. Lá para o meio do show, esta mesma garota revoltada se divertia, sorrindo e de braços ao vento, nos ombros de um amigo.
No palco, John Mayer, no melhor estilo Dave Matthews, esbanjava simpatia e talento. E dominava facilmente o público, principalmente o da área VIP. Era engraçado que em muitos momentos eu ouvia uma multidão distante gritando e vibrando, como se estivesse assistindo a outro show, enquanto a “minha” platéia permanecia calma e conversando tranquilamente. Parecia que algo de diferente acontecia lá na frente.
A parte musical do show foi boa. As músicas, se não empolgam, satisfazem a vontade do público e são gostosas de escutar. Foi uma boa apresentação.
Claro que, quando voltei para meu carro, lá estava uma multa merecida, assim como em todos os outros que também pararam em cima da grama. E lá também estava a repórter da Record, de microfone aberto e câmera ligada, entrevistando os motoristas revoltados que reclamavam da falta de opções de acesso ao Anhembi. Era marronzinho e carro da CET com setas piscantes por todos os lados.
Não foi um inferno. Não foi sacrificante. Não foi um caos absoluto. Mas o conjunto da noite não foi legal. O que era pra ser um programa de lazer foi algo carregado de stress.
Diante de tanta coisa errada, tanta desorganização, tanta falta de estrutura, vou ter que contar uma história para encerrar. Alguns poucos vão entender. Quem não entender terá de procurar no Google. Era um menino, no colo da mãe, morrendo de vontade de ir a um show organizado e com estrutura. Ele falou para ela: “Mamãe, no Anhembi tem show?”. E morreu.