Daí no meio do show do Bon Jovi, quando todas as luzes se apagaram e as 65 mil pessoas ligaram as luzes de seus celulares formando o universo na Terra, virei para minha amiga que filmava a cena com o aparelho dela. “Olha aquilo, olha para trás”. E ela me respondeu: “Estou olhando pela câmera, estou filmando”.

 

Mas o que é olhar? O que é estar presente? Se você vai a algum lugar, ver um show, uma peça ou um filme, e fica no Whatsapp conversando com alguém, você estava ali?

 

Hoje vivemos a possibilidade de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. No exemplo do Whatsapp, você está com o corpo no Teatro mas com a mente no Guarujá, Londres ou Bali, dependendo com quem você está falando.

 

Uma vez, no trabalho, tiraram sarro de quem fica o show inteiro com o celular pra cima filmando. Eu comentei que não achava motivos pra isso. Cada um curte seu momento do seu jeito. Tem gente que prefere garantir uma gravação concreta do que depender da memória. Por mais que não reveja o vídeo nunca, ele está lá para quando quiser.

 

Quando tive meu primeiro smartphone fiz muitos vídeos e muitas fotos de shows. Postei no YouTube e no Flickr. Depois isso tudo perdeu o sentido para mim. Não faço mais vídeos. Prefiro depender da minha memória, que costuma lapidar e cuidar dos momentos com carinho, tornando-os ainda mais especiais com o tempo. Prefiro não ter essas minhas memórias danificadas anos depois por um vídeo que irá revelar que as coisas não foram bem assim como eu lembrava. E, de todos os modos, sempre existe o YouTube, com vídeos dessas outras milhares de pessoas.

 

Fotos eu ainda tiro, mas poucas, normalmente nas músicas que não conheço ou nas que menos gosto. Nas minhas favoritas eu não quero conversa, não quero celular, não quero distrações. Às vezes não quero nem cerveja na mão pra poder pular com força – e olha que uma das coisas que mais me desesperam é estar sem um copo na mão num show de música.

 

Show, cinema e teatro, pra mim, não são lugares de conversa. Quando converso muito durante o show é sinal, pra mim, de que ele não está tão bom. Cinema, não curto falar nem durante os créditos. Me deixa curtir o fim do filme, me deixa pensar e refletir. Vamos andando pra saída, relembrando o que acabamos de ver. Vamos falar de outro assunto, depois voltamos ao filme. “E aí, gostou?”, eu espumo com essa frase surgindo assim que a palavra “Cast” surge na tela.

 

Tem gente que vê com os olhos, tem gente que vê com a pele. Tem gente que curte ligar o Facetime para dividir em tempo real aquele momento com alguém. Tem gente que prefere curtir sozinho, numa relação íntima com a banda e a massa. Tem os que focam e são hipnotizados, tem os que estão em todos os lugares ao mesmo tempo. O importante é se divertir e ter prazer. Cada um do seu jeito, mas com um sentimento em comum.