“Sometimes I think I have felt everything I’m ever gonna feel. And from here on out, I’m not gonna feel anything new. Just lesser versions of what I’ve already felt.”
“The past is just a story we tell ourselves.”
“I think anybody who falls in love is a freak. It’s a crazy thing to do. It’s kind of like a form of socially acceptable insanity.”
Nossas vidas são carregadas de desejos, mas ficam travadas pelos nossos mais variados medos. A gente está o tempo todo buscando o que é palpável e real, porque isso nos traz segurança e perspectiva de futuro. Nós queremos ter certeza de que somos amados, de que nossos chefes nos valorizam, de que nossos amigos nos querem bem e de que nossos namorados e namoradas nos amam de verdade. Mas, afinal de contas, o que é real nisso tudo? O que é “real” hoje pode ser “virtual” amanhã? Tudo que sentimos é verdadeiramente real? O que vivemos foi real ou são apenas lembranças virtuais?
Por tudo isso, não se engane. Mais que uma ficção científica romântica, mais que um filme indie bem humorado e mais que a nova obra de Spike Jonze, “Ela” – que na melhor tradução seria “Dela” – é um filme simples sobre amor e relacionamento que esfrega o tempo inteiro em nossas caras que, no fundo, pouco importa se algo é real ou não.
Cheio de cores, videogames interativos, músicas melancólicas do Arcade Fire, poesias bem escritas, apartamentos bem decorados pela Ikea e escritórios de bom gosto, o filme nos apresenta nossas vidas como uma série de virtualidades.
As cores que vemos são apenas representações de nossos cérebros para as ondas da física. O videogame que interage e repete nossos movimentos é apenas programação. As lindas cartas de amor que recebemos são apenas poesia criada exatamente para emocionar – como uma programação de computador. As cidades são viadutos e prédios de concreto e vidro espelhado – criados para nos organizar. E, não se esqueça, passamos 1/3 de nossas vidas dormindo e sonhando – logo, vivendo no submundo totalmente virtual de nossos inconscientes.
Por isso o filme é tão atual e profundo, apesar de toda sua simplicidade. Se nossos sentimentos são reais ou apenas expressões químicas de nossos HDs internos, pouco importa. Nada disso faz alguma diferença. Uma conversa no WhatsApp, um relacionamento de Facebook ou até mesmo um sexo virtual pode ser tão real e bom quanto contatos físicos ao vivo.
Se sempre buscamos a realidade, se sempre queremos ter certeza de que tudo que sentimos é verdadeiro e de que esse amor existe, por que perdemos tanto tempo com o passado que já não é mais real? As histórias que vivemos não existem mais. Foram reais sim, mas hoje são virtuais. Assim como o futuro e nossos objetivos. Nada disso é palpável. Mas, mesmo assim, não deixamos de valorizar.
Nesta toada, o filme mergulha nos relacioanemtnos. Temos ali o casal que cresceu e aprendeu tudo junto, mas exatamente por isso acabou se separando, porque cada um foi para um lado nessa evolução. Temos o casal que claramente não deve ficar junto, mas lá estão os dois, firmes e fortes, infelizes, cheios de diferenças. Temos o coração ferido que desistiu de tentar, que acredita nunca mais viver algo tão intenso quanto o que já foi. E, principalmente, temos a grande dúvida dos amantes: este amor que sentimos é real? Isto que eu sinto é verdadeiro? É recíproco? Exatamente por de alguma maneira conversar diretamente com nossas memórias, nossos medos e nossas expectativas, “Ela” é tão bonito.
Jonze, que deu ao mundo obras como “Quero Ser John Malkovich”, “Adaptação” e “Onde Vivem os Monstros”, escreve e dirige o filme com sensibilidade. As escolhas de fotografia e direção de arte valorizam este mundo virtual da publicidade, onde tudo é bonito, ensolarado e bem decorado, e por isso ajudam a criar uma atmosfera quase mágica.
Mesmo indie, o filme arrebatou 5 indicações ao Oscar – Filme, Roteiro, Trilha Sonora, Canção e Design de Produção. Uma pena que não tenha havido espaço para indicar Joaquim Phoenix como melhor ator nem Scarlett Johanson como melhor atriz coadjuvante. Valeria a pena. Mesmo sem aparecer em cena, Scarlett emprega só com a voz uma carga dramática de tirar o chapéu.
Enfim, vamos parar de questionar a tecnologia e aproveitar todas as possibilidades de intensificação de relacionamento que ela permite. Os sentimentos são reais quando a gente acredita que eles são. Vamos parar de teorizar e questionar o que nos faz tão bem. Nós precisamos nos conectar com as pessoas, portanto, pouco importa a maneira como faremos isso. O importante é se relacionar. E ponto final.
Amei sua crítica. Muito linda, parabéns!
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Filme realmente incrível. Quando assisti fiquei procurando alguém até na fila do banco para comentar os detalhes sutis que me impressionaram. Vejo que teve o mesmo efeito sobre você.
Parabéns pelo blog
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