Paul Thomas Anderson já é dos maiores diretores em atividade. Colecionando prêmios e indicações nos mais respeitados festivais do planeta, tem uma filmografia tão variada quanto coesa. Diretor de atores sublime, também é responsável por lançar ou consagrar novas caras (Mark Walbergh, Julianne Moore) ou gente decadente (Burt Reynolds).

Suas obras são sempre complexas e pesadas. Algumas, mais abertas ao grande público (“Boogie Nights”, “Magnólia”) que outras (“Embrigado de Amor”, “O Mestre”). Não são filmes fáceis, sei bem disso. Você luta o tempo inteiro contra a complexidade da narrativa, dos diálogos e das imagens que pipocam na tela. Mas tudo sem verborragia ou pirotecnias. Paul Thomas Anderson consegue ser bem complexo e simples.

“Vício Inerente”, indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, é sua mais nova obra. Numa enlouquecida Los Angeles dos anos 70, vemos Doc (Joaquin Phoenix) se render aos pedidos de sua ex namorada (aquela que deixou uma ferida em seu coração) para investigar um magnata do mercado imobiliário. E, nessa caminhada, tudo vai se complicar.

Anderson, assim como em trabalhos anteriores, não nos dá nada de mão beijada. Você, enquanto espectador, vai tentando montar o quebra-cabeças da história, encaixando cada um dos vários personagens, tentando compreender o que diabos aquele filme quer nos contar. É assim mesmo. Mas é engraçado como numa segunda exibição tudo sempre se clareia. Por isso, os filmes de Paul Thomas Anderson são tão poderosos. Numa segunda vez, um filme novo se abre pra você, a ponto de você poder curtir cada detalhe, cada frase, cada interpretação. Por isso preciso ver este “Vício Inerente” mais uma vez. Para torná-lo ainda maior. Faça isso com os outros filmes do diretor que deixou você confuso e terá plena compreensão do que estou falando.

Joaquin Phoenix constrói um Doc bondoso, de olhar carinhoso, que, mesmo chapado quase o filme inteiro, ganha a empatia da platéia. Seu timing cômico – proporcionado por belas falas e situações – é um presente para o ator, que se firma aqui como um dos mais talentosos em atividade. Vale a pena rever o filme anterior de Anderson, “O Mestre”, e comparar com a atuação de Phoenix neste aqui. É estranho imaginar que se trata da mesma pessoa.

Para rivalizar com ele, Josh Brolin constrói um policial tão forte e hilário quanto o personagem de Phoenix. O “Big Foot”, como é chamado, brilha em cada momento que surge na tela. Parece até saído de um filme dos irmãos Coen.

É um filme noir, não tenha dúvidas. Temos ali o detetive, a femme fatale que o coloca na história, o magnata corrupto, o policial bonachão e uma fotografia impecável – mas ao contrário dos clássicos do gênero, rica em cores e brilhos. A fumaça do cigarro dá lugar à fumaça da maconha.

Paul, assim como Kubrick, vai ao longo da carreira brincando com os gêneros do cinema. Pegue “Magnólia” e veja o que ele fez com o Drama. Pegue “Embrigado de Amor” e veja o que ele fez com a Comédia Romântica. Esse cara é um gênio.

Respeito muito outros grandes diretores americanos em atividade, como Wes Anderson, Alexander Paine, Tarantino entre outros, mas Paul Thomas Anderson tem uma genialidade única e tão profunda que o coloca acima de qualquer outro.