O som que vem do palco é um cover de Péricles – procure você também no Google!

 

A cerveja morna sobre o balcão é uma Itaipava a peso de ouro: 10 reais.

 

Ao redor, o público tem o remeleixo do pagodeijo.

 

Não há dúvidas: a epidemia de camisa xadrez é sertaneija, não indie.

 

Os peitos que escapam dos sutiãs são de silicone.

 

E a caranga com adesivo fosco e neon parada na porta do lugar é sinal de status.

 

– Olha lá o segurança de terno preto na porta do bar, já é meu brother.

 

Ele ficar de olho no carro é sinal de poder. Ele deixar você fumar fora do cercadinho é atingir o nível “Eduardo Cunha”.

 

Procuro ao redor aquele reduto da boemia paulistana, lá da virada dos 90 para os 2000.

 

Lembra? Tinha Smiths no Nias – aquela balada com propaganda na rádio.

 

Tinha uma noite inteira de Chico Buarque no “Roda Viva”.

 

MPB reinava absoluto no “Bom Motivo” e no “Aki Madrid”.

 

Ah, os finais de noite com o rock do Matrix…

 

O Mercearia na Rodésia era um lugar onde eu batia ponto toda quarta-feira, durante mais de quatro anos seguidos – salve, França! Salva, Rogério! Salve, Neto! Salve, Boca!

 

Chopp com picanha na chapa numa tarde de sol no Posto 6 era um programa bacana.

 

Conseguir a saideira no Salve Jorge, um desafio.

 

A decoração do São Cristóvão era perfeita para o Instagram, mas, droga, ele ainda não existia.

 

Consegui ver a abertura das Olimpíadas de 2008 projetada na rua, direto da calçada do José Menino.

 

Comemorei títulos corintianos incontáveis no finado Boleiros – com direito a entrevista para o Mesa Redonda.

 

Mas está tudo tão diferente.

 

O antigo Anhanguera, finado reduto de cervejas artesanais brasileiras, é uma balada com pagode ao vivo.

 

A feijoada baiana do Genial continua gostosa, mas o lugar está às moscas e sem música aos domingos.

 

E a feijoada do Betinho que virou mais uma paleteria mexicana? – o número de lojas do produtos já ultrapassou o de agências do Bradesco.

 

A Vila Madalena orkutizou – com toda a carga preconceituosa que essa expressão carrega, confesso. Não é mais pra mim, em especial a esquina Mourato Coelho x Aspicuelta.

 

Bons restaurantes ainda sobrevivem, claro. Bares como o Sabiá ainda ficam cheios. Filial segue servindo ¾ de colarinho. Mas aquele clima semi-underground se deslocou de vez para o Centro e restou por ali uma mistura de sambão pop com a gourmetização do alternativo.

 

O que a gente esperava depois de tanta exposição na Copa do Mundo?

 

Cuidado, Praça Roosevelt. Cuidado, região do Copan e da av. São Luiz. O futuro de vocês pode ser o presente da Vila Madalena.