***COM POUQUÍSSIMOS SPOILERS PRA NÃO ESTRAGAR SUA DIVERSÃO***
Pode dormir tranquilo, Star Wars está de volta. Esqueça as prequels mais recentes, dirigidas com mão pesada por um sisudo George Lucas. J.J. Abrahms recupera e entrega em O Despertar da Força o que a trilogia original – aquela antiga – tinha de melhor: diversão.
Há humor nos mais variados níveis – do sorriso de canto de boca até a gargalhada. Há um leque variado de emoções – romance, drama, suspense. E o principal, que sempre foi o grande trunfo dos filmes originais: há ótimos personagens.
A Rey de Daisy Ridley talvez seja o grande trunfo do longa. Simpática, fofa, destemida, inocente (no melhor sentido da palavra), corajosa, aventureira, dá vontade de abraçar e levar pra casa. Prepare-se: essa atriz vai bombar nos próximos anos e virar a maior estrela de Hollywood. O Finn de John Boyega é um baita de um personagem: o mocinho de bom coração mas que nem de longe é um bobo idiota. É bem humano. O Poe do excelente Oscar Isaacs é um fodão gente fina, com uma humildade bem natural. Uma trinca fortíssima que vai dar o que falar.
Claro que os personagens antigos estão de volta. Quando o Han Solo de Harrison Ford surge na tela, ao lado de Chewbacca, eu não sabia se chorava ou aplaudia. Optei pela primeira opção, enquanto a maioria da sala ficou com a segunda. Se há a discussão se Han Solo atirou antes – originalmente, claro que sim – aqui não resta dúvidas de que ele joga um extra na boca de um monstro assassino. Demais! Chupa, George Lucas.
Léia, agora General, tem presença marcante, apesar das plásticas que a atriz Carrie Fischer optou por fazer. Tem menos destaque que Solo neste filme, mas deve ganhar mais nos próximos. E o Luke Skywalker de Mark Hamill está fodalhaço com sua barba grisalha e túnica de Jedi. Mesmo com poucos segundos em cena e nenhuma fala.
E não é só isso. A trinca de vilões também é excelente. Começando pelo sombrio Kylo Ren de Adam Driver. Temos um novo Darth Vader? Claro que não, mas que baita personagem. Me vi torcendo por ele, para que não morresse e voltasse nos próximos filmes. O visual e a voz dele são demais. O General Hox, com menor destaque neste primeiro filme, parece ter força para rivalizar com Ren nos próximos. E o Líder Supremo de Andy Serkins surge com uma presença que pode ser mais impactante que a do Imperador. Me incomodou um pouco o 3D, que foge do tom mais realista dos efeitos especiais deste filme. Aliás, outra grande sacada de Abrahms, indo na direção oposta de Lucas nos prequels, que se perdeu em 3Ds extremamente fakes. Aqui, tudo é bem mais realista e integrado, você acredita no que está vendo.
E se falamos dos personagens, não podemos esquecer do dróide BB8: apaixonante, talvez ainda mais que o bom e velho R2D2. Um verdadeiro pet, bastante inspirado em Wall-E. Anotem aí, esse bichinho vai vender que nem água. Eu já quero algo dele pra mim. E, ainda bem, não temos Jar Jar Binks por ali.
O filme é um retorno às origens, recuperando tudo que a trilogia original tinha de melhor mas também trazendo novos caminhos para um futuro bem promissor. É um presente aos fãs e uma homenagem às décadas de adoração. Há uma série de referências aos filmes antigos – truque usado por J.J. também no reeboot de Star Trek – que vai emocionar qualquer fã. É um presente aos mais velhos e uma baita novidade aos mais novos.

Recentemente tentaram fazer algo parecido em “Jurassic World”, mas com todo respeito à importante e divertidíssima obra de Spielberg de 1993, Star Wars é algo absurdamente maior em todos os aspectos. Então as homenagens em World eram divertidas, enquanto aqui são de chorar. Além, claro, de Jurassic World ser bem fraco, enquanto este é um filme com bastante alma.
Mas se a expectativa pelo filme acabou, saiba que “O Despertar da Força” se encerra sem ponto final, deixando aquela vontade e ansiedade pelo próximo capítulo, que promete muito por ser escrito e dirigido pelo diretor do ótimo Looper. Ou seja, a expectativa só aumenta quando o longa termina.

Mas claro que ele não é perfeito. Não é uma obra-prima, longe disso. Principalmente nos últimos minutos, quando surge uma correria desesperada para amarrar as pontas soltas do roteiro.
Também incomoda o excesso de repetição de detalhes do filme original, aquele de 77. Mas não era isso que queríamos? Melhor mais do mesmo do que cagar tudo como George Lucas fez tentando inovar nas prequels.
Nesse sentido, O Despertar da Força é um claro espelho de Uma Nova Esperança. Mas Jakku não precisava ser desértico como Tatooine. Nem Rey precisava ter sido abandonada como Luke.
De todos os modos, para cada problema do filme temos um caminhão de coisas boas que nos faz perdoar os poucos erros. Estes não incomodam, você está se divertindo tanto que eles passam despercebidos.
É provavelmente o melhor filme da série desde O Império Contra-Ataca (o melhor de todos). Sim, é melhor que o infantilizado O Retorno dos Jedis (me recuso a usar a tradução brasileira O Retorno de Jedi). E é anos luz melhor que o péssimo A Ameaça Fantasma, que o mediano Ataque dos Clones e que o bom A Vingança dos Sith.
É leve, simples, despretencioso, bem humorado, movimentado e cheio de energia. Ou seja, aquela montanha-russa que a trilogia original criou tão bem. Dá orgulho e vontade de chorar durante a sessão. Sim, você está vendo um novo Star Wars, cacete! Está lá, ele existe!
Na minha sessão, claramente de fãs (com direito a um deles fantasiado de Jedi), o público vibrava, ria, urrava, ovacionava e aplaudia. Era um reencontro emocionado com um parente amado. Ao final, palmas e mais palmas, além de uma série de elogios. O público estava em êxtase. Tinha a certeza de ter feito as pazes com a série.
Porque, além de recuperar tudo o que a franquia tinha e que encantou o mundo, comoeu já disse, “O Despertar da Força” entrega o que o cinema comercial americano sabe fazer de melhor. Aquela sensação de sentar numa cadeira e por duas horas bater um papo com aquela criança sonhadora que vai ficar se imaginando naquele mundo fantástico antes de dormir. Esta magia está lá na tela.

Se o filme pretendia mostrar o tal despertar da força, saiba que ele desperta também toda a paixão que envolve Star Wars. Algo que a maldita, desnecessária e séria trilogia nova nunca conseguiu. Algo que – neste nível – nenhuma outra obra da cultura pop jamais conseguiu.
Então, não tenha medo, vá assistir. É legal pra caralho! Tanto que procurei não jogar muitos spoilers por aqui para não atrapalhar sua experiência. Vá! E que a força esteja com você. Com certeza, ela estava com J.J. quando ele fez o filme. 😉 Amém.