E finalmente chegou a minha vez de ver o badalado novo filme do Iñarritu, The Revenant/O Regresso. Não vou enrolar e vou direto ao ponto: bem, mas bem fraco.

O filme é um Terrence Malick wannabe. Talvez por isso o diretor mexicano tenha chamado o mesmo diretor de fotografia dos filmes do americano. Rendeu um filme plasticamente lindo – com sol baixo, luz natural e grande angular – mas tão vazio quanto o vento citado pelo personagem do Di Caprio. Uma bela fotografia não é suficiente para garantir a qualidade de um filme.

Quanta baboseira. Quanta tentativa fracassada de se fazer poesia filosófica. Quantos clichês reunidos.

The Revenant mistura Dança Com Lobos com Árvore da Vida, Gravidade e The Edge (aquele filme com Anthony Hopkins e Alec Baldwim, lembram?). Tudo com uma bela fotografia e ritmo lento a la O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford. Bota tudo no liquidificador, bate bastante e nos é servido frio, sem assar. Não há novidade alguma ali.

Se Sandra Bullock sofreu de tudo em “Gravidade”, assim como Matt Damon em “Perdido Em Marte”, aqui Leo Di Caprio é torturado pelo diretor, com as cenas mais absurdas e ridículas que você possa imaginar – o que gera risadas na sala de cinema, inclusive. Um sofrimento que a Academia adora. Com certeza chegou a vez do ator levar o Oscar. Os votantes não resistem a uma série de caretas – elas tiraram a estatueta do Michael Keaton ano passado, lembram? Eu particularmente prefiro o estilo Bryan Cranston em “Trumbo” do que os urros do Di Caprio.

Mas o sofrimento maior é do espectador, que enjoa rápido daquelas paisagens lindas da National Geographic diante de um roteiro fraco e sem fundamenro, cheio de soluções fáceis e outras absurdas – por que diabos ele come búfalo e peixe cru se sempre tem uma fogueira acesa? Esfoemado? Ele quase vomita em uma das mordidas. E o cavalo suicida? Cavalos não se jogam de penhascos, James Cameron já mostrou isso em True Lies.

É tudo tão forçadamente travestido de arte que você espreme e não sai nada. “Ai, que legal, a respiração do Di Caprio embaça a lente”, dirão os deslumbrados. Tudo truque. Tudo roupagem artificial de “filme independente”. O filme é chato, vazio, disperso e lento demais.

Há quem diga que o tema do filme é a vingança. Claro que não. É sobre a sobrevivência. Do espectador na poltrona do cinema.

Claro que o filme não é uma bomba, não é horroroso. Tem coisas interessantes, como o paralelo entre a “luta” de Leo Di Caprio com o urso e de Leo Di Caprio com Tom Hardy. Ambas bastante selvagens. Mas é um filme fraco, bem fraco.

Iñarritu segue com sua carreira de altos e baixos. “Amores Brutos” é um filmaço, “Babel”, um lixo, “Biutiful”, a depressão em celulose e, “Birdman”, quase uma obra-prima. Mas todos bastante pretenciosos.

O Regresso chega com doze indicações ao Oscar. É o favorito, o mais indicado. E nada de “Steve Jobs”, “Inside Out” ou “Ex Machina” entre os indicados a Melhor Filme. Os membros da Academia andam meio estranhos mesmo. Ou eu que envelheci.

DANÇA COM LOBOS

ÁRVORE DA VIDA

THE EDGE/NO LIMITE

O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELRD