Todo mundo lembra do impacto que foi ver “O Sexto Sentido”, filme que lançou não só o ator mirim Haley Joel Osment, mas também o diretor indiano M.Night Shyamalan ao estrelato. O cineasta até foi indicado ao Oscar. Anos depois – e uma série de filmes irregulares depois – Shyamalan é quase um pária em Hollywood. Porque naquela terra, se os números não acompanham a expectativa, não há espaço para você. E, convenhamos, deve ser complicado ter como parâmetro o sucesso assombroso que “O Sexto Sentido” foi – além de um dos maiores plot twists da história do cinema. A cada novo filme, o público esperava uma reviravolta no mesmo nível.
Pois no ano passado, quem diria, Shyamalan voltou no tempo. Se rendeu a um filme de baixo orçamento, foi contratado por uma equipe de produtores bem específica – de “Atividade Paranormal” – e abriu mão de parte do lado autoral em nome da carreira.
“A Visita” é de 2015, custou apenas 5 milhões de dólares e arrecadou quase 100 milhões no mundo todo.
Confesso que me assustei ao perceber que era mais um longa no estilo “found footage”, inaugurado com brilhantismo por “A Bruxa de Blair” mas desgastado por anos e anos de filmes dos mais variados gêneros, como “Cloverfield” ou o próprio “Atividade Paranormal”.
Mas nas mãos de Shyamalan, o estilo ou subgênero ganha novos ares. A estética, por mais que seja caseira, jamais é feia ou mal concebida. Planos, enquadramentos e sequências, além da própria fotografia, não parecem saídos das mentes das duas crianças protagonistas que manejam as câmeras, mas sim de um grande diretor, como é o caso. E Shyamalan deita e rola no longa. Assume o estilo “terrir” e parte para uma construção sequencial de absurdos capazes de gelar a base da espinha e arrepiar a alma.
A atmosfera criada pela ambientação numa fazenda isolada e coberta por gelo e pelo conflito dos quatros personagens centrais é perfeita. Em especial, pela presença da avó, talvez a vovó mais assustadora já surgida numa tela de cinema.
Não quero entrar em detalhes para não estragar a experiência, divertida e assustadora, mas “A Visita” foi um dos filmes que mais me deixou com medo nos últimos anos. Afinal, Shyamalan é da escola “menos é mais”, recheando a história de terror sugerido, quase nunca mostrado. Assim como nos outros filmes dele, o cineasta abusa um pouco de sustos fáceis e truques de roteiro, é verdade, mas nada que incomode o todo. A ideia neste filme é divertir, seja pela risada nervosa, seja pelo arrepio na pele. E ele usa como base uma versão moderna de João e Maria, com direito até a cena dentro do forno.
Eu, particularmente, entendo que “A Bruxa” seja supostamente um terror mais ousado por tentar novos caminhos e novas propostas para o gênero, mas nem de longe aquele filme me deixou com tanto medo quanto este “A Visita”. Acho que “A Bruxa” falhou na tentativa de renovação, enquanto “A Visita” reciclou o gênero de forma bastante competente. Na medida para o público que quer sustos e arrepios.
Recomendo que você veja numa madrugada, com a casa vazia, no ar condicionado ou numa noite fria de inverno. De preferência, sozinho, se tiver coragem.