Antes de mais nada é preciso entender que o Oscar é uma premiação da indústria, com fins lucrativos, que visa dar fôlego aos longas nas bilheterias e criar os astros e estrelas que movimentam Hollywood. Não se trata necessariamente de merecimento ou de qualidade cinematográfica apenas.

Tanto que alguns dos maiores diretores da história da sétima arte jamais receberam estatuetas de MELHOR DIRETOR, como Stanley Kubrick, Alfred Hitchcock, Charles Chaplin, Pedro Almodovar, Federico Fellini, David Lynch, Robert Altman, Sidney Lumet, Fritz Lang, Howard Hawks… a lista é enorme. Alguns desses venceram Oscar honorários ou em outras categorias, mas jamais foram eleitos Melhor Diretor. Enquanto nomes com carreira bastante questionável, como Ron Howard, James L Brooks, Richard Attemborough e vários outros levantaram a estatueta.

Assim como o prêmio de MELHOR FILME normalmente não coincide com os longas que realmente entram para a história do cinema. “Meia Noite Em Paris” e “Árvore da Vida” são bem mais lembrados que “O Artista”. “Cisne Negro”, “Toy Story 3” e “A Origem” são muito mais filmes que “O Discurso do Rei”. “Bastardos Inglórios” e “Up” marcaram mais que “Guerra ao Terror”. Assim como “Brockeback Mountain” jamais poderia ter perdido para “Crash”, ou “As Horas” e “Gangues de Nova York” para “Chicago”.

Vamos lá, hoje, que filme é mais marcante e cultuado, o perdedor “Ghost” ou o vencedor “Dança com Lobos”? O perdedor “ET” ou o vencedor “Ghandi”? O perdedor “Caçadores da Arca Perdida” ou o vencedor “Carruagens de Fogo”? O perdedor “Touro Indomável” ou o vencedor “Gente Como a Gente”? O perdedor “Apocalipse Now” ou o vencedor “Kramer vs Kramer”? E por aí vai…

Quando se fala em atores, a lista dos nunca premiados é enorme. O fodástico Gary Oldman fazia parte desta lista mas se safou na noite de ontem. Enquanto Peter O’Toole, Johnny Depp, Glenn Close, Sigourney Weaver e o próprio Charles Chaplin jamais levaram, Nicolas Cage, Roberto Benigni, Marisa Tomei e Sandra Bullock já receberam a estatueta.

Veja bem, Meryl Streep tem o mesmo número de Oscars na categoria principal que Hillary Swank e Sally Field. Nada contra estas últimas, mas, convenhamos, olhe para a carreira das três e a quantidade de ótimas interpretações… E quando lembramos de Glenn Close e Sigourney Weaver ficamos ainda mais pasmos. E o Al Pacino que tem apenas um, minha gente?

Enfim, isto posto, vamos à diversão que é acompanhar a competição.

No geral, foi aquela premiação longa e sem surpresas – errei apenas quatro palpites, de tão previsível. Os pontos altos foram o discurso de Frances McDormand – que deve agradecer ao roteiro careta mas muito bem estruturado, com personagens fortíssimos, tanto que três atores foram indicados e dois levaram – assim como a vitória do chileno Uma Mulher Fantástica, de Jon Peele por Corra!, de James Ivory por Me Chame Pelo Seu Nome e de Roger Deakins por Blade Runner. No geral, não houve nada muito injusto.

Claro que há quem odeie “A Forma da Água”, como tem gente que torceu o nariz para “Me Chame Pelo Seu Nome”, alguns odiaram “Corra!” que eu sei e outros idolatraram “Três Anúncios Para Um Crime”.

Foi politizado na medida, fazendo coro com o necessário feminismo sem esquecer dos temas trans e negros. A vitória de mais um mexicano como diretor, agora Guillermo del Toro, também merece destaque, ainda mais em tempos de Trump.

Acho que no geral foi uma leva de muito mais qualidade que a do ano passado, onde vários dos indicados eram bem questionáveis. Neste ano, quase todos estavam lá por merecimento. Claro que sempre há os esquecidos, como a fantástica atuação de Robert Pattison no excelente “Bom Companheiro” e o trabalho impecável de James Franco como ator/diretor no menosprezado “O Artista do Desastre”.

Enfim, o divertido é acompanhar, fazer apostas e desligar a TV de madrugada. Ano que vem a gente já vai ter esquecido metade dos vencedores mas vai estar novamente fazendo bolões sobre os possíveis ganhadores. Quem sabe não chega a vez de uma Glenn Close ou de um Paul Thomas Anderson? A ver.