Em 2006, no meu primeiro Carnaval de rua da vida, no Rio de Janeiro, me apaixonei pelos blocos e, ao longo dos anos seguintes, acumulei nada menos que nove carnavais em terras cariocas. Naquele ano, em meu primeiro bloco, na Lapa, me perguntei se algum dia veria aquilo em São Paulo.

Pois em 2016, graças ao então prefeito Fernando Haddad e sua luta para levar o paulistano às ruas, estimulando festas e eventos ao ar livre, chorei ao escutar da minha varanda os batuques de aquecimento da Orquestra Voadora, um dos blocos cariocas mais incríveis e que se apresentaria no pre-Carnaval de São Paulo, a dois quarteirões de minha casa. Desci, percorri toda a Hélio Pellegrino com eles e ainda fiz xixi em casa.

No ano seguinte, São Paulo veio com um pré e um pós-Carnaval de gente grande, mas ainda assim fui ao Rio (meu nono feriado lá).

Só em 2018 arrisquei trocar o Rio por São Paulo em pleno Carnaval e, não só não me arrependi, como repeti a dose nesse ano.

Meu último Carnaval no Rio, em 2017, não foi muito bom: os blocos estavam cheios demais, com gente estranha, conservadora e mal educada – teve muito perrengue também.

Já em São Paulo, no ano passado, o que vi foi a proliferação dos blocos pelos bairros e a paixão do paulistanos pelas fantasias só crescer.

Em 2019, São Paulo foi o segundo Carnaval do país em número de blocos e o terceiro em número de turistas – em ambos os índices, passou meu amado Rio de Janeiro e no primeiro perdeu para Recife e, no segundo, para Salvador e Recife.

Não que esta festa seja uma competição: longe disso, não há melhor ou pior, cada cidade tem suas qualidades e problemas, cada uma faz a festa a sua maneira. Ainda não conheço o de Recife, mas em Salvador passei quatro Carnavais – quando a cidade ainda vivia o auge dessa festa.

Enfim, o que me levou a escrever esses parágrafos inúteis é que, se os próximos prefeitos não cometerem nenhum erro, São Paulo tem tudo para se firmar como um dos quatro destinos de Carnaval do país, trazendo mais dinheiro para a cidade e rompendo com a imagem errada propagada por muitos anos de que São Paulo é uma cidade triste, sem amor e só para trabalho.

Aliás, um pouco de leitura sobre a história do Carnaval paulistano e seus cordões pode surpreender muita gente – vale a pena ir atrás.

Nos anos 90, se dizia que a capital paulista era boa só por conta dos restaurantes e bares. Ali, talvez, isso fizesse algum sentido. Quando ouvi esse argumento já em 2017, quase gargalhei na cara da pessoa.

São Paulo é uma das cidades mais vivas e criativas do mundo. Tem a melhor noite, as melhores festas alternativas e um dos meios culturais mais agitados do planeta. Quem vive essa cidade de verdade sabe do que estou falando, seja por conta dos inúmeros shows de música – internacionais em estádios, festivais, baratos nos Sescs, gratuitos nas ruas – festas, feiras, eventos etc. São Paulo respeita arte e cultura, festa e criatividade.

Só quem vive no circuito Vila Olimpia-Itaim não faz a menor ideia disso.

São Paulo entregou em 2019 um Carnaval histórico. Quem acertou nos blocos sabe do que estou falando.

Que venha 2020.