Só o conservadorismo sustenta a lógica exploratória do capitalismo.

Gastar pouco com maconha e ficar tranquilo na cadeira vendo o balançar das árvores não interessa. Você tem que consumir – em volume e em valor. Por quê o alcool é aceito? Volume. Dá fome. Dá ressaca. Você passa mal. Gera toda uma cadeia de consumo. Provoca briga. Quebra coisa. Compra nova. Bate o carro. Roda a máquina do dinheiro.

O conservadorismo sustenta um casamento eterno. Que gera infelicidade. Que por sua vez tenta ser compensada no consumo – a velha e errada ideia de que isso vai fazer você feliz. A psicologia já disse que a felicidade da compra dura só duas horas. Casal feliz fica em casa transando. Consome menos. Se satisfaz com pouco do material porque já tem muito do emocional.

Querem que você tenha filhos – muita gente engole que isso é uma obrigação e um sinônimo de felicidade. Pois o filho é o que te amarra nos empregos que te fazem infeliz, mas que pagam a escola, as roupas, os cursos e as viagens. Aumenta a massa e, por oferecer mais mão de obra, derruba salários. Eles querem mesmo é que vocês tenham muitos e muitos filhos. Mais gente pra querer consumir, mais gente disposta a trabalhar mais por menos.

A insegurança faz parte dessa máquina capitalista selvagem, assim como os sistemas de Saúde, Educação e Transporte precários. Sim, você paga imposto, mas se o governo entregar todo o resto de graça como deveria, muita gente deixa de ganhar dinheiro. Jamais vai entregar.

O conservadorismo capitalista cria modas e tendências. Exige que você troque hoje o que ontem era legal. Pra depois trocar de novo amanhã. E as pessoas caem nos modismos, aceitam a bênção abstrata da moda. Não tem nada mais conservador que isso, cheio de regras e palhetas de cores.

Inventam que você tem que ter carro e ainda trocar com frequência. “O seu não condiz com seu novo cargo”. Inventam casa grande, que gera mais gastos. Inventam tecnologias inúteis, que custam cada vez mais. E a pessoa se vê enrolada até o pescoço e por isso quer mais e mais e mais e mais. Corrupção e ganância.

Entretenimentos de elevação como boas leituras ou bons filmes são relegados a guetos. Não chegam às massas – que normalmente já foram deseducadas pra nem entender o que eles dizem. Li em algum lugar que a intelectualidade de um povo pode ser detectada pela qualidade da música que ele mais consome.

Parte do conhecimento é tornada piada e desacreditada. Fica só a ciência com seus dados frios e números tentando corroborar com o conservadorismo capitalista enquanto as outras partes do conhecimento são jogadas no lixo. O conservadorismo considera o mental algo de loucos, o espiritual algo de fanáticos, o existencial algo de lunáticos e o corporal algo unicamente estético.

Daí a sociedade coloca quem se libertou disso tudo como louco. Tenta manter a massa na rédea com filmes de qualidade baixa, livros pobres, músicas ruins e propagandas toscas, mas que fazem a lavagem cerebral do capitalismo. Elevam teóricos como Bauman pra tentar te convencer que se libertar é errado. Provocam a infelicidade com teorias que não se sustentam. E as pessoas embarcam.

O tempo todo querem manter você na Matrix.

A existência é uma só. A vida é o agora, não a noite de sábado, não as férias, não a casa que você quer comprar daqui dez anos. Caixão não tem gaveta pra você guardar o material. Conforto, tranquilidade e diversão não devem jamais ser confundidos com materialismo inútil, consumo irracional e falsas emoções.

Liberdade é ter pouco a perder. Liberdade é ter pouco para carregar. Liberdade é ser quem e o que você quiser. Liberdade é viver o agora sem lamentos sobre o passado e sem expectativas de ser feliz só no futuro. E o melhor de tudo é que sempre o melhor momento pra se libertar é agora.