Histórico.

Pelo primeiro longa de língua não inglesa a levar Melhor Filme.

Pelo discurso do Joaquin Phoenix contra a desigualdade.

Pela forte presença das mulheres.

Por Jane Fonda apresentar o prêmio principal, num vestido que já vestiu e usando joia de uma mineradora sustentável (além do casaquinho vermelho que a acompanha em todas as manifestações e, portanto, prisões).

Pelas dubladoras estrangeiras cantando a música de Frozen 2.

Por Randy Newman, de idade bem avançada e desconhecido do público, poder cantar a música que ele compôs e pela qual estava indicado – quem lembra do que houve com Jorge Drexler?

Por Mark Ruffallo, declaradamente um ativista de esquerda, apresentar Melhor Filme Internacional.

Por Petra Costa ter esfregado na cara do establishment a indicação e o golpe que culminou no fascismo, vestindo vermelho e protestando com cartazes.

Por Laura Dern, mulher foda e artista.

Por Sigourney Weaver, uma das precursoras em Hollywood.

Por Eímear Noone, primeira mulher a reger a orquestra em 92 anos de cerimônias.

Pelos vencedores de Melhor Documentário terem citado Karl Marx no discurso: trabalhadores do mundo, uni-vos!

Por Billy Porter ter ensinado aos comentaristas brasileiros que vestir um vestido feminino não é estar travestido de mulher.

Por Bong Joon-ho ter soado como qualquer um de nós, dizendo que ia encher a cara – além de ter feito duas de suas quatro estatuetas masculinizadas se beijarem.

Por Janelle Monáe, mulher, negra e artista, brilhando na abertura da cerimônia.

Pela capa da Natalie Portman, com os nomes das diretorAs não indicadas.

Por Eminem e sua música tão atual.

Pela ausência de comentaristas retrógrados e ultrapassados na transmissão brasileira, como Arnaldo Jabor e Rubens Ewald Filho (RIP) – tá, Artur Xexéo é quase isso, mas estava tímido e com medo de virar meme, além de ofuscado por Dira Paes.

Pela revolta dos excluídos diante desse capitalismo genocida.

Por Avengers, representando os filmes blockbuster de superheróis e mais parecidos com videogame que com cinema, ter saído sem nada.

Pelo último Star Wars, bomba horrorosa feita em salas acarpetadas e com cadeiras de couro, ter sido esquecido.

E, como disse @paulo_junior_ num tweet que chegou até mim, não só por um filme coreano ter levado Melhor Filme, mas por ter ganhado desses velhos fetiches capitalistas e tão século XX: guerra, herói, máfia, carros, mídia, sociedade patriarcal, homem branco e rico em crise (obrigado, Sergio Virgilio!).

Foi um Oscar de esquerda. Marxista. Não é à toa que a maioria dos jovens norteamericanos se declara comunista e Bernie Sanders deve vencer as primárias democratas em todos os 50 Estados.

O século XX acabou. Até a indústria norteamericana do entretenimento já sabe. Greenbook foi o último suspiro.

Isso é só o começo. Um cheiro de novos tempos soprando no vento.

Bem-vindos aos século XXI.