E a cada um deles respondi a mesma coisa.

Que estou me sentindo o Al Pacino dos anos 70 — apenas na aparência —, num filme dirigido por Francis Ford Coppola e escrito por Aaron Sorkin — tá, eu sei, não faz sentido, mas na minha imaginação dá match, ok?

Apesar desses detalhes antagônicos que meus sentimentos criaram, trata-se de um longa-metragem de narrativa clássica, com aquele herói bem tradicional. É um filme de Guerra, com efeitos realistas e cenas lúdicas como o “1917” do Sam Mendes. Sou o protagonista, claro, afinal, minha vida é minha história.

Sou um soldado com backstory incômodo, como você, com traumas do passado, como todo mundo, e que tem uma missão qualquer dada por um general qualquer (que morre durante o filme).

Esse soldado — eu — neste momento está em campo aberto, sujo, cansado, sangrando, sangrando muito, mancando, mancando muito, mas seguindo em frente. Sempre em frente.

Neste filme, já vi a morte trágica de dois grandes amigos, mas lá sigo eu em frente. Não vejo o fim dessa guerra a curtíssimo prazo, mas lá sigo eu em frente. Não vejo muito motivo pra querer salvar este mundo do jeito que ele é, mas lá sigo eu em frente.

Sou esse soldado que vai perdendo os amigos ao longo da jornada, mas ganhando força e vontade de continuar, não importa quantos bombardeios, pontes quebradas, artilharias, aviões ou psicopatas ensandecidos eu tenha de enfrentar. Eu sigo em frente.

Pois eu sei que uma hora tudo isso vai acabar, vai sim, tudo passa, tudo sempre passa, e eu vou poder sair daquele esconderijo final e ir pra rua, ver todo mundo saindo desconfiado de suas casas, olhando para os céus cheios de drones jogando papéis… papéis que vou pegar na mão e ler… ler que tudo acabou, que tudo… passou… e vou encontrar todos os meus amigos sobreviventes na praça. Vou abraçar cada um deles e sorrir.

Uma senhora vai colocar uma caixa de som numa varanda e jogar pétalas lá de cima. Vai chegar um caminhão cheio de bebida gelada, e a gente vai tirar a roupa de soldado, e a gente vai dançar, vai encher a cara, e a gente vai gritar, a gente vai comemorar…

Ali, só então, eu vou chorar. E vou chorar de alegria, porque o que me emociona de verdade é a beleza da vida e não a tristeza da morte.

Enquanto isso, aqui entocado e com muito frio, brindo apenas um gole aos que já se foram, agradeço por tudo que foi compartilhado e escrevo no meu diário, a luz de velas, sonhando com o final que virá, sonhando com a enorme festa na praça, sonhando com o momento em que eu finalmente poderei chorar de êxtase.

E, pode ter certeza, você vai estar lá comigo para ver.